Vanderlei Cordeiro de Lima: Imparável
A maratona voltava a sua origem na Olimpíada de Atenas, em 2004. E não havia melhor cenário para o esporte mostrar que raiva ou chateação podem se transformar em felicidade e gratidão. E o responsável por nos mostrar isso foi o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima. Nascido em Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, ele chegou àquela Olimpíada com 36 anos.
Após passar a primeira metade da prova junto com os outros atletas, mas começou a se distanciar do grupo. Aos 35km, faltando sete para o final, ele tinha 28 segundos de vantagem. No quilômetro seguinte, o ex-padre irlandês Cornelius Horan lhe empurrou. Ele veio de lado, quando Vanderlei viu sequer havia como reagir. Um homem grego chamado Polyvios Kossivas, saiu da área destinada a torcida e libertou Vanderlei do irlandês. Tempos depoois, Polyvios veio ao Brasil onde foi homenageado pelo Comitê Olimpico Brasileiro por seu ato de bravura.
“As consequências daquele ataque foram muito duras para mim, a partir daquele momento eu passei a ter muitas dores musculares, passei a ter uma insegurança muito grande, pensei ‘estragou tudo’”, disse Vanderlei em entrevista recente a TV Globo. Os adversários que segundo especialistas se aproximariam apenas no final da prova, chegaram três quilômetros antes devido ao ritmo mais fraco do Vanderlei.
“Quando fui ultrapassado pelo Stefano Baldinie e pelo americano busquei forças de onde não tinha”, conta Vanderlei. A chegada da prova ocorreu no estádio Panathinaiko, palco da primeira Olimpíada da Era Moderna, em 1896. Por lá, o público viu pelo telão o que aconteceu com Vanderlei. Ao entrar no estádio, para conquistar o bronze, ele foi mais aplaudido que os vencedores das medalhas de ouro e de prata.
“Quando entrei no estádio Panathinaikos que olhei para trás e vi que ninguém mais tiraria minha medalha, eu pensei ‘tenho que comemorar agora’”. Vanderlei fez aviãozinho, fez coração para arquibancada, e de braços abertos ultrapassou a linha de chegada, como mostra o vídeo abaixo.
“Com toda aquela alegria e satisfação eu já tinha até esquecido que o cara tinha me agarrado. Aquele momento era mais importante que o fato de alguém ter me atrapalhado antes. A conquista foi mais que a decepção”. Os jornalistas que aguardavam por ele após a prova imaginavam encontrar um Vanderlei chateado com o que aconteceu, mas o que ele disse logo após a prova foi: “não é por isso que vou chorar, tô feliz pra caramba!”.
Em reconhecimento a demonstração de ‘fair play’ de Vanderlei, ele recebeu a Medalha Barão Pierre de Coubertin, a maior honraria que o Comitê Olímpico Internacional dá para atletas.
A vitória veio para mim de uma forma diferente, nem sempre a medalha mais desejada brilha tanto como essa medalha de bronze. É aquilo que você prática, e não o que você conquista. Essa medalha reflete o que é a nação brasileira, acreditar sempre e desistir jamais” – Vanderlei Cordeiro de Lima
ATUALIZAÇÃO: Graças a história contada acima, Vanderlei Cordeiro de Lima acendeu a Pira dos Jogos Rio 2016.