SÉRIE ESPÍRITO OLÍMPICO

Gabriela Andersen: Desistir Jamais

Nunca uma 37ª colocada foi tão incentivada, aplaudida e lembrada. O dia 5 de agosto de 1984 já era importante por ser a primeira maratona feminina da história olímpica. Mas a imagem do empenho da suíça Gabriela Andersen tornou-se histórica. No momento da largada, às oito da manhã, no Estádio Coliseu de Los Angeles, a temperatura já era de 32ºC. Parte do trajeto aconteceu na estrada, o que aumentou a dificuldade por conta do piso quente.

Faltando cinco quilômetros para o final, Gabriela ainda não se sentia tão mal, mas estava com calor e sede. Um fator complicador foi que ela perdeu o último posto de hidratação. Conforme ela contou, em entrevista dada a TV Globo, “o maior problema era a dor nas pernas, eu estava com muita câimbra por conta da desidratação. Eu não conseguia caminha em linha reta”.

A atleta, que tinha 39 anos, sabia que aquela era a única chance de concluir uma maratona olímpica. “Se parasse e sentasse, não teria forças para levantar e continuar”. Ela prosseguiu, entrou no túnel que dava acesso ao estádio, onde sua situação melhorou brevemente por conta da sombra. “Imediatamente senti o frescor da sombra. Mas quando entrei na pista, o sol quente voltou e ele cozinhava o estádio”.

Gabriela logo começou a ser seguida pelos médicos e recebeu um boné. Richard Andersen, seu marido, ficou chocado quando viu a maneira como ela caminhava. Mas ele e as outras 77 mil pessoas no estádio só podiam fazer uma coisa: incentivar. Depois que ela passou da metade da pista as pessoas começaram a crer que ela conseguiria. Ela afirma que isso a animou. “Eu me lembro que já perto do fim o barulho era inacreditável”.

Após eternas 2h46min42s, Gabriela venceu os 42 quilômetros. “Quando vi a linha de chegada, eu pensei: ‘aí, acabou!’” Assim que passou a linha, ela foi imediatamente carregada pelos médicos, sob os aplausos da multidão. “Eu me senti aliviada, mas tinha muitas dores pela exaustão, desidratação e aumento da temperatura do corpo”. Ela conta que depois de uma hora já se sentia bem.

Gabriela Andersen com parte do piso da antiga pista de atletismo do Estádio Coliseu de Los Angeles. (Reprodução/TV Globo)
Gabriela Andersen com parte do piso da antiga pista de atletismo do Estádio Coliseu de Los Angeles. (Reprodução/TV Globo)

Cartas chegaram do mundo todo, principalmente do Brasil, que enviou mais mensagens que qualquer outro país. Hoje, aos 71 anos, ela continua praticando esportes. Na maratona, agora pontos de água existem a cada dois quilômetros, ao invés de apenas quatro postos como em 1984. No final da entrevista que concedeu a TV Globo, Gabriela diz o porquê conseguiu concluir a prova: “Se você está realmente determinado pode realizar muito mais do que você pensa”.

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