SUPERAÇÃO

John Bramblitt: a bela história do cego que reencontrou as cores no escuro

As tintas sempre acompanharam John Bramblitt em momentos de dificuldade. Diagnosticado com epilepsia grave aos dois anos, a pintura sempre foi um passatempo durante as frequentes internações durante a infância. “A arte era uma ótima maneira de lidar com um mau dia e comemorar um bom dia”, conta John, hoje aos 41 anos. Aos sete anos, os médicos acreditavam que o rim esquerdo causava as convulsões que ele tinha. A retirada do órgão não solucionou o problema.

Aos onze anos, após sofrer um número alto de convulsões, John foi diagnosticado com a doença de Lyme. Foi necessário um tratamento forte, que afetou a parte do cérebro responsável pela visão. Ao longo dos anos ele enxergava cada vez menos. A epilepsia e as convulsões continuavam, até que aos 26 anos, em 2001, seu oftalmologista lhe informou que ele perderia o resto da visão. Em entrevista recente ao site da CNN, ele define esse momento de sua vida: “Eu me senti como se alguém tivesse me dado um soco no estômago”.

John logo tomou a decisão de não ser um fardo para família. Providenciou um cão-guia, buscou aprender braile e como cozinhar sem se queimar. Ainda assim, sentia-se frustrado. “Eu estava em torno de pessoas que tinha conhecido durante toda a minha vida, e eles não entendiam mais como eu relacionava com o mundo e como se relacionar comigo. E eu também não sabia como me relacionar comigo. É um isolamento assustador”.

John Bramblitt lançou um livro chamado "Gritando no Escuro - Minha jornada de volta para a luz".
John Bramblitt lançou um livro chamado “Gritando no Escuro – Minha jornada de volta para a luz”.

Em certo momento dessa busca por si mesmo, John lembrou da alegria que a arte sempre lhe trouxe. As primeiras tentativas por um recomeço falharam. Ao tentar desenhar formas simples, o lápis ia para além do papel. Sem desistir, aos poucos ele desenvolveu estruturas que facilitariam seu trabalho. Até mesmo para inspirar-se, ele passou a desenvolver a imaginação para visualizar mentalmente aquilo que tocava. Utilizando um material de secagem rápida, ele passou a reconhecer as cores na tela através do tato, distinguindo-as de acordo com a viscosidade e textura das tintas.

Sentindo-se melhor, porém temendo o julgamento de sua arte, pintar secretamente passou a fazer parte da rotina de John durante várias horas por dia. Mas logo os amigos descobririam o hobby dele, não apenas pelas pequenas manchas de tinta em sua pele, mas também pelo humor que melhorou. “Quando estou pintando, penso apenas no fim dessa tela, e isso me coloca presente nesse momento. É o lugar mais calmo e mais feliz se estar”, conta John.

Logo ele começaria a exibir suas imagens na galeria da universidade onde estudava, no Texas (EUA). Ainda assim, manteve-se distante da exibição num primeiro momento, temendo a reação das pessoas ao saberem que um cego estava pintando quadros. Logo ele ficaria sabendo que não havia motivo para preocupar-se, e pode se abrir e falar sobre seu trabalho.

Atualmente, quando não está pintando, John dá workshops em instituições de caridade. Também colabora com museus, ajudando-os em questões relacionadas à acessibilidade, para que a arte possa ser apreciada por todos. Seus quadros já estão em mais de vinte países, mas ainda assim ele busca aprimorar-se cada vez mais:

Hoje, quando eu retrato alguém, permaneço querendo que se pareça com eles, mas agora eu me tornei interessado na percepção. Tento ir além da pele e ossos de alguém, para buscar qual é a essência dessa pessoa e que os torna quem eles são. E é isso que tento fazer com a cor, colocar que a emoção e o sentimento”, contou ele durante o relato ao site da CNN.

John já é casado há dez anos e afirma que graças a habilidade desenvolvida com a técnica de tocar nas pinturas, pôde curtir melhor o nascimento do filho, que hoje tem oito anos: “Eu era capaz de sentir o rosto do meu filho logo depois que ele nasceu e ver como ele era”. Apesar de nunca ter visto sua esposa e seu filho, ele retratou ambos:

Jacqi Serie, esposa de John.
Jacqi Serie, esposa de John.
Jack, filho de John, foi retratado pelo pai quando tinha três anos.

Sobre o atual momento de sua vida ele diz: “Se você tivesse me dito há 15 anos que eu teria muito amor e cor em minha vida, eu teria pensado que você era louco. Eu ainda sou cego e permaneço epiléptico, mas estou mais feliz do que eu já estive em minha vida”.

Confira algumas das belas pinturas de John Bramblitt:

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